Manaus, 28/06/2024

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Acidente aéreo no AC: após 2 meses, análise de DNA não identifica última vítima e família precisará pedir presunção de morte

Francisco Eutimar é a única vítima que não foi possível ser identificada por análise de DNA — Foto: Arquivo pessoal
Francisco Eutimar é a única vítima que não foi possível ser identificada por análise de DNA — Foto: Arquivo pessoal
30/12/2023 13h30

Dois meses após o acidente aéreo que deixou 12 mortos em Rio Branco, o Instituto Médico Legal (IML) de Rio Branco finalizou os trabalhos de análise de DNA sem conseguir chegar à identificação de Francisco Eutimar, que seguia em investigação.

A informação foi confirmada ao g1 pelo diretor-geral do Departamento da Polícia Técnico-Científica, Sandro Martins. De acordo com ele, mesmo com a utilização de amostras de DNA de parentes de Francisco Eutimar, não foi possível identificar material genético dele nos fragmentos de corpos analisados.

“Não foi possível identificar [a vítima]. A Justiça vai ter que declarar a morte presumida. Nos restos mortais, fragmentos dos corpos, não foi identificado material do Francisco Eutimar”, explicou.

A declaração de morte presumida, citada pelo diretor, é um procedimento legal que atesta o falecimento de vítimas de acidentes cujos corpos não foram encontrados após encerramento de buscas e posterior declaração oficial das autoridades de que não foi possível reconhecê-las ou localizá-las.

Francisco Eutimar era natural de Eirunepé, no Amazonas, e tinha 32 anos. Agora, segundo Martins, será preciso que a família acione a Justiça para obter a declaração.

“É a família que busca a Justiça. Nós [IML] fornecemos um documento constando a impossibilidade de identificação”, destacou.

Últimas vítimas identificadas

Os corpos de Kleiton Lima Almeida e Antônia Elizângela foram identificados e liberados  — Foto: Arquivo pessoal
Os corpos de Kleiton Lima Almeida e Antônia Elizângela foram identificados e liberados — Foto: Arquivo pessoal

Os corpos do copiloto Kleiton Lima Almeida e Antônia Elizângela foram levados às famílias no início de dezembro, segundo informou Sergio Bents, diretor de segurança operacional da ART Táxi Aéreo. As duas vítimas foram identificadas no dia 28 de novembro. O corpo de Elizângela foi para Envira (AM) e do copiloto para Itaituba (PA). Os dois foram velados em suas cidades em ato simbólico juntos com as demais vítimas.

“Fomos nós que fizemos o transporte com uma aeronave de propriedade da empresa”, disse Bents.

O corpo de Francisco Eutimar ainda segue no Instituto Médico Legal (IML) passando por análise de DNA para que a identificação seja feita, a certidão de óbito emitida e que o corpo seja liberado para a família, que é de Eirunepé (AM).

Devido ao estado em que os corpos ficaram, os restos mortais tiveram que passar por extração de DNA. Trata-se de um trabalho minucioso, que passa por diferentes etapas e que é necessário para que seja concluída a identificação dos corpos das vítimas.

Um corpo ainda passa por análise de identificação  — Foto: Tácita Muniz/g1
Um corpo ainda passa por análise de identificação — Foto: Tácita Muniz/g1

DNA

Após o Departamento da Polícia Técnico-Científica esgotar todas as técnicas possíveis de identificação, os corpos passam agora pela análise genética. Para isso, é iniciado um trabalho de extração de DNA de materiais genéticos da vítima. Mas, antes disso, o material passa por um processo de descalcificação para que os peritos possam acessar esse DNA que fica protegido dentro dos ossos.

Esse tipo de procedimento requer tempo, repetição e diversas etapas, além de não ter espaço para erros. Por isso, é impossível definir uma previsão para que seja concluído.

O g1 teve acesso a esse trabalho feito no Instituto de Análises Forenses (IAF) para entender como é feita essa identificação. Mônica Paêlo, perita criminal do Laboratório de Genética Forense, explica que o estado em que os corpos se encontram é o maior desafio desse processo.

“O maior desafio para a genética forense é o estado em que os corpos se encontram. Os corpos foram carbonizados e o processo de carbonização foi intenso e isso se torna um desafio para a gente conseguir ter acesso ao material genético, o DNA, e poder processar essa amostra para identificação. Essa é uma das amostras com maior grau de dificuldade que a genética forense encontra hoje”, detalha.

O voo que caiu no Acre era particular, da empresa ART Taxi Aéreo, e decolou de Rio Branco com destino a Envira, no Amazonas. A aeronave modelo Caravan tinha capacidade para até 14 pessoas e caiu por volta das 7h21 no horário local (9h21 em Brasília), logo após a decolagem. O percurso ainda incluía uma parada em Eirunepé (AM). Além da queda, o avião explodiu, deixando as vítimas carbonizadas.

Após extração do DNA, é iniciado o processo para se traçar o perfil genético — Foto: Tácita Muniz/g1
Após extração do DNA, é iniciado o processo para se traçar o perfil genético — Foto: Tácita Muniz/g1

“Este é um exame de cinco etapas e, quando a gente está falando de processo de identificação de corpos, a gente também está falando de um processo que envolve muita repetição de etapas por conta da característica que esses corpos entram. Então, em muitos casos, a gente tem que repetir muitas etapas do processo, o que faz com que o processo torne-se um pouco mais demorado. E aí os trabalhos são muito minuciosos em cada um dos detalhes. A gente trabalha com material extremamente pequeno, é um trabalho praticamente artesanal que a gente faz e com todo cuidado para que não haja nenhum tipo de problema no decorrer. A gente hoje tem uma equipe de quatro peritos, e no momento nós estamos com todos os esforços voltados para a identificação dos corpos do acidente da aeronave”, destaca.

Vale lembrar que em ato simbólico, uma urna com as cinzas do local do acidente foram levadas para Envira (AM), onde houve um velório coletivo para as vítimas daquela cidade. O mesmo aconteceu no caso de Kleiton Lima Almeida. Como o corpo ainda não havia sido identificado para ir junto com o do piloto Cláudio Atílio Mortari, uma urna com cinzas do local do acidente foi levada para que as famílias pudessem se despedir, já que os dois eram da mesma cidade.

As investigações seguem pelo Sétimo Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa VII).

As vítimas identificadas são:

  • Kleiton Lima Almeida (copiloto), de 39 anos, nasceu e morava em Itaituba, no sudoeste do Pará. Ele tinha se tornado pai há um mês, segundo a irmã, Gardeny Lima;
  • Antônia Elizângela era natural de Envira, no Amazonas. Segundo nota divulgada pela prefeitura do município, ela era pecuarista.
  • Jamilo Motta Maciel, de 27 anos, era dentista e morava em Eirunepé;
  • Raimundo Nonato Rodrigues de Melo, de 32 anos, morava em Eirunepé. Ele era dentista e estava na capital acreana para fazer um curso;
  • Francisco Aleksander Barbosa Bezerra, de 29 anos. Também de Eirunepé, ele trabalhava como vigilante de carro forte e deixa uma filha de 7 anos;
  • José Marcos Epifanio, de 46 anos. Natural de Envira, ele era irmão de Antônio Cleudo, que também morreu no acidente, e empresário do ramo de combustíveis.
  • Clara Maria Vieira Monteiro (filha) e Ana Paula Vieira Alves, de Eirunepé. A mãe tinha 19 anos e a criança, 1 ano e 7 meses.
  • Cláudio Atílio Mortari (piloto) – Ele era natural de São Paulo, mas também morava em Itaituba, no Pará. De acordo com trabalhadores da empresa, Cláudio morava no Pará desde a década de 80;
  • Edineia de Lima – Servidora do município de Envira, segundo nota divulgada pela prefeitura do município;
  • Antônio Cleudo Mattos – Natural de Envira, no Amazonas, tinha 46 anos. Era irmão de José Marcos, e também era empresário do ramo de combustíveis.

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