Manaus, 14/12/2024

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Em Manaus, Biden anuncia aporte ao Fundo Amazônia e diz que deixa legado ‘forte’ para Trump na área ambiental

Biden durante visita ao Museu da Amazônia, em Manaus (AM), neste domingo (17). — Foto: Leah Millis/Reuters
Biden durante visita ao Museu da Amazônia, em Manaus (AM), neste domingo (17). — Foto: Leah Millis/Reuters
18/11/2024 09h00

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou o aporte de US$ 50 milhões ao Fundo Amazônia durante a visita a Manaus, no Amazonas, neste domingo (17). Em seu pronunciamento, Biden também reforçou que deixa um ‘legado forte’ para Donald Trump, que assume a presidência americana em 2025.

O anúncio foi feito durante a agenda do democrata no Museu da Amazônia (Musa), onde ele se reuniu com lideranças indígenas da Amazônia brasileira e cientistas. O novo investimento elevará o total de contribuições dos EUA ao Fundo Amazônia para US$ 100 milhões.

A doação está sujeita à aprovação do Congresso americano – agora de maioria republicana – e tem como objetivo acelerar os esforços globais para conservar terras e águas, proteger a biodiversidade e enfrentar a crise climática.

“A luta contra a mudança climática vem sendo a causa da minha presidência. Não é preciso escolher entre economia e meio ambiente. Nós podemos fazer as duas coisas”, destacou Biden em pronunciamento no Museu.

O aporte de mais US$ 50 milhões ao Fundo Amazônia foi o segundo anunciado pelo governo Biden. Em 2023, no começo do governo Lula, um primeiro repasse de US$ 50 milhões foi anunciado na retomada do fundo, que havia sido desativado durante o mandato de Jair Bolsonaro.

Os valores anunciados por Biden, porém, ainda estão longe da promessa de repassar US$ 500 milhões feita em abril de 2023.

Criado há 16 anos, o Fundo Amazônia reúne doações internacionais para financiar ações de redução de emissões provenientes da degradação florestal e do desmatamento, apoiar comunidades tradicionais e ONGs que atuam na região, além de fornecer recursos diretamente para estados e municípios para ações de combate ao desmatamento e a incêndios.

O presidente americano também anunciou que está lançando uma coalizão internacional para mobilizar, no mínimo, US$10 bilhões até 2030 para restaurar e proteger 20.000 milhas quadradas de terras. Ele também assinou uma proclamação designando o dia 17 de novembro como o Dia Internacional da Conservação.

Outras medidas anunciadas por Biden foram:

  • Emitir uma proclamação oficial para proteger a conservação da natureza no mundo inteiro.
  • Mobilizar, por meio da Corporação Financeira de Desenvolvimento, centenas de milhões de dólares em parceria com uma corporação brasileira para reflorestar a Amazônia.
  • Oferecer financiamento para lançar o Fundo das Florestas Tropicais, iniciativa do governo brasileiro.
  • Apoiar uma legislação que irá lançar uma nova fundação de conservação internacional, que irá utilizar fundos públicos para atrair bilhões de dólares em capital privado.

Ele reforçou estar deixando ‘uma base muito forte’ nas políticas climáticas para o sucessor Donald Trump.

“Estou saindo da presidência em janeiro e vou deixar ao meu sucessor uma base muito forte, se eles decidirem seguir esse caminho. Alguns podem negar ou atrasar a revolução de energia limpa que vem acontecendo nos EUA, mas ninguém pode revertê-la”, disse.

Ainda durante o pronunciamento, o presidente dos Estados Unidos enalteceu a região. Foi a primeira vez que um presidente em exercício dos Estados Unidos visitou a região da Amazônia brasileira, conforme a Casa Branca.

“Muitas vezes foi dito que a Amazônia é o pulmão do mundo. Mas, a meu ver, nossas florestas e maravilhas são o coração e a alma do mundo”, declarou.

A visita de Biden à Amazônia ocorre dois meses antes do fim do mandato dele à frente da presidência dos EUA. A eleição do republicano Donald Trump no começo de novembro reacendeu as discussões sobre clima e meio ambiente. Como a maior economia do mundo e a segunda emissora de gases de efeito estufa, as decisões dos EUA têm impacto direto na luta global contra as mudanças climáticas.

Negacionista das mudanças climáticas, Trump usou o mote “Drill, baby, drill” (perfure, baby, perfure), sobre aumentar a exploração de petróleo do país, durante a campanha deste ano. Conhecido por sua postura de flexibilização regulatória e apoio ao setor de combustíveis fósseis, Trump promete tocar uma agenda antiambiental, o que preocupa especialistas

No seu primeiro mandato, Trump tirou os EUA do Acordo de Paris, pacto assinado pela comunidade internacional em 2015 para limitar o aquecimento global, e revogou mais de 100 regras ambientais, que impactaram nas emissões de gases de efeito estufa, um dos principais responsáveis pelo aquecimento global.

Visita à Amazônia

Joe Biden desembarcou em Manaus por volta das 13h30 (horário de Brasília) e partiu por volta das 18h com destino ao Rio de Janeiro. Ele estava acompanhado da filha Ashley e da neta Natalie, segundo a agência de notícias AFP. A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, também estava na comitiva.

Por volta das 14h, o democrata fez um passeio de helicóptero pela região. Ele foi escoltado por outros seis helicópteros da Força Aérea Americana. Por alguns minutos, Biden sobrevoou o Encontro das Águas, dos rios Negro e Solimões, a Reserva Florestal Adolpho Ducke e o Museu da Amazônia (Musa).

Biden se encontra com lideranças indígenas na Amazônia — Foto: Alexandro Pereira/Rede Amazônica
Biden se encontra com lideranças indígenas na Amazônia — Foto: Alexandro Pereira/Rede Amazônica

Depois, o presidente visitou o Musa, onde encontrou com os pesquisadores Henrique Pereira, do Instituto de Pesquisa da Amazônia (Inpa), Filippo Stampanoni, diretor geral do Museu, além da pesquisadora do Camila Ribas, também do Inpa, e Peter Fernandez, CEO da Mombak, empresa que negocia créditos de carbono.

No Museu, Biden fez uma trilha pela floresta. Ele também encontrou com lideranças indígenas dos povos Kokama, Xerente e Wapichana, que o aguardavam ao pé de uma Sumaúma – maior espécie de árvore encontrada na Amazônia que pode chegar a 50 metros de altura e viver cerca de 120 anos.

Biden também foi recebido pela embaixadora dos EUA no Brasil, Elizabeth Bagley, pelo governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil) e pelo prefeito de Manaus, David Almeida (Avante).

O climatologista brasileiro Carlos Nobre, referência há décadas nos estudos sobre os efeitos das mudanças climáticas na Amazônia, também acompanhou o presidente americano durante a visita.

Após a viagem a Manaus, o Biden seguiu para o Rio de Janeiro, onde participa da Cúpula dos Líderes do G20. No evento, ele deverá reforçar o papel dos EUA no incentivo ao crescimento econômico sustentável.

A Casa Branca anunciou a viagem do presidente no último dia 7 de novembro, detalhando que Biden visitaria Manaus e o Rio de Janeiro entre os dias 17 e 19. Antes de chegar ao Brasil, ele participou da cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), realizada em Lima, no Peru.

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